Bem, já estou ciente que esta postagem despertará muita polêmica, por isso fiquem à vontade para comentar. Você que tem dúvidas a respeito desse tema, ou está enfrentando uma situação conjugal difícil e não sabe como agir, não precisa tomar o que vou postar aqui como palavra final. Pesquise outras fontes de conhecimento e, depois, não faça o que é melhor, faça o que é certo.

O senso comum cristão é de que o divórcio só é permitido em caso de adultério. Assim a pessoa estará livre para se divorciar e casar-se novamente. Isso faz até com que cristãos adulterem para ter o “direito bíblico” de contrair novo casamento. Será que é assim mesmo?

Calvino, o reformador e um dos fundadores da nossa religião protestante evangélica, vivia na cidade de Genebra. A cidade tinha situações de separação conjugal e existia até penalidades para divórcio. Adultério dava cadeia, na época, lá em Genebra. Calvino era um homem apaixonado pela esposa dele, a Idelette de Bure. Sempre mostrava publicamente o amor e carinho que ele tinha por ela. Nunca se divorciou e era totalmente contra o divórcio por qualquer outro motivo (exceto adultério e vontade do cônjuge não crente). Ele disse assim quando ela morreu:

“fui destituído da melhor companheira de minha vida, de alguém que tinha sido de tal modo eleita para mim que, se isso tivesse sido ordenado, não apenas teria sido uma espontânea companhia na minha indigência, mas também na minha morte. Durante toda a minha vida ela foi uma auxiliadora fiel em meu ministério. Nunca tive por parte dela um mínimo estorvo.”

Esse pastor reformador do século XVI, além de outros grandes nomes do cristianismo pela história, me ajudou muito a entender que há sim prevista na Bíblia algumas exceções onde a dificílima consequência do divórcio possa acontecer..

Um acadêmico disse assim, uma vez, de Calvino:

“Calvino, entretanto, num sermão sobre Deuteronômio 22.13-24, manifestou-se abertamente contra o texto dos Regulamentos (que era a lei de Genebra), considerando muito branda a pena para o adultério.

Segundo ele, os adúlteros deveriam ser punidos com rigor semelhante ao usado contra os ladrões a quem era aplicada a pena de morte por enforcamento. Ele via o adultério como o pior dos furtos, pois roubava a honra do cônjuge inocente, destruía o nome da família e a vida dos filhos nascidos e daqueles que haveriam de nascer.

Não eram, contudo, as percepções pessoais de Calvino a base para as suas afirmações sobre o adultério como prática que rompe o vínculo conjugal. Suas convicções, como seria de se esperar, se fundamentavam na exegese de textos como Mateus 5.31 e 19.9, nos quais, de acordo com seu modo de entender, o Senhor apresentou claramente o adultério como uma exceção à proibição do divórcio seguido de novo casamento. Em seu comentário ao capítulo 7 de 1Coríntios, ele estranha que Paulo não trate dessa exceção de modo claro e, ao enumerar os erros do romanismo em matéria de casamento, menciona a proibição de que o marido de mulher adúltera tome para si outra consorte.” (Não pude encontrar o nome do autor dessa passagem)

Ou seja, segundo a Bíblia, conforme os textos de Mateus 5.31, Mateu 19.9 e 1 Corínthios 7, o divórcio é a última instância quando o casamento está mal.

O divórcio deve ser evitado a qualquer custo, pois Jesus disse que o que Deus uniu, não separe o homem (Marcos 10:9), mas há sim casos onde o próprio Deus, segundo sua Lei expressa em Deut 24, permite o divórcio, para que a parte mais afetada num caso de adultério ou repúdio (geralmente acompanhado de violência moral e física) possa ser livre para ter uma nova vida, depois de passar por uma tragédia como essa..

Outro texto, do irmão Walter L. Callison, falando sobre divórcio, diz assim:

Deus odeia o “repúdio”.

O profeta Malaquias, com seu coração compadecido, implorou ao povo de Deus que parassem com isso. A palavra traduzida por “repúdio” em Malaquias 2.16 não é a palavra hebraica para divórcio, mas é shalach, repúdio. Veja como Malaquias responde aos líderes que perguntavam como tinham cometido abominação em Israel e profanado a santidade do Senhor: “Perguntais: por quê? Porque o Senhor foi testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher da tua aliança. Não fez o Senhor um, mesmo que havendo nele um pouco de espírito? E por que somente um? Ele buscava a descendência que prometera. Portanto, cuidai de vós mesmos, e ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade. Porque o Senhor, Deus de Israel, diz que odeia o repúdio e também aquele que cobre de violência as suas vestes, diz o Senhor dos Exércitos; portanto, cuidai de vós mesmos e não sejais infiéis” (Ml 2.14-16).

Depois veio Jesus, e suas palavras não negaram suas ações! Ele se referiu a isso quando disse: “Quem repudiar sua mulher e casar com outra comete adultério; e aquele que casa com a mulher repudiada pelo marido, também comete adultério” (Lucas 16:18). Todo aquele que faz isso comete adultério! Essa prática era cruel e adúltera, porém não se tratava de um divórcio. A palavra do Novo Testamento traduzida por “repúdio” vem do verbo grego apoluo. Esta é a palavra que os autores do Novo Testamento usaram como equivalente a shalach (“deixar” ou “repudiar”).

A diferença entre “repudiar” e “divorciar” (no grego apoluo e apostasion) é crítica. Apoluo indicava que a mulher era escrava, repudiada, sem direitos, sem recursos, roubada em seus direitos básicos ao casamento monogâmico. Apostasion significava que o casamento terminava, sendo permitido um casamento legal subseqüente. O papel fazia a diferença. A mulher que tinha saído de casa podia casar-se com outro homem (Dt. 24.2). Essa era e lei. Como foi que começamos a ler “todo aquele que se divorcia da sua mulher” na passagem em que Jesus disse literalmente “todo aquele que repudia ou abandona a sua mulher?” Existem outras passagens, além de Lucas 16.17-18 em que Jesus falou desse assunto. Essas incluem Mateus 19.9, Marcos 10.10-12 (onde Marcos diz que Jesus determinou a validade da lei do homem igualmente para a mulher) e Mateus 5.32. Nessas passagens Jesus usou onze vezes alguma forma da palavra apoluo. Em todas as ocasiões Ele proibiu o apoluo, o repúdio. Ele nunca proibiu apostasion, a carta de divórcio, requerido pela lei judaica.. A tradução Revista e Corrigida de Almeida, a mais antiga em português, sempre usou “deixar” ou “repudiar”, da mesma forma a Revista e Atualizada.

A graça é abundante em Cristo Jesus! Jesus disse àqueles homens que repudiar a esposa e casar-se com outra era adultério. Adultério! A lei (Dt 22.22) prescreve a pena de morte como castigo para o adultério, tanto para o homem como para a mulher. Isso foi difícil de engolir para os homens que faziam com sua mulher o que lhes comprazia. Mateus 19.10 registra a seguinte reação: “Se essa é a condição do homem relativa à sua mulher, não convém casar!” Eles não viviam em uma cultura que esperava que o homem vivesse apenas com uma mulher por toda a vida, muito menos que desses direitos iguais à mulher se o casamento acabasse. Como foi que começamos a ler “aquele que divorciar sua mulher” nas passagens em que Jesus, na verdade disse “aquele que repudiar ou abandonar sua mulher?”

Assim, a tradição nos ensinou a ter em mente “divórcio”, mesmo quando lemos “repúdio”. Seria o divórcio por escrito a solução para a prática cruel do repúdio, como indica Deuteronômio? O capitulo 24 é uma evidência de que, assim como Deus ouviu as queixas no Egito e proveu libertação da sua escravatura, também ouviu as súplicas das mulheres escravizadas e as libertou do abuso, por meio de uma necessidade trágica, o divórcio. Trágica porque termina com algo que nunca deve terminar o matrimônio; necessária para proteger as vítimas daqueles que não obedecem as regras do nosso Criador, o Todo-Poderoso. Necessária, originalmente porque o homem repudiou a mulher, enredando-as em matrimônios ilegais, múltiplos e adúlteros. O divórcio é uma tragédia.

O divórcio é um privilégio, previsto como um corretivo para situações intoleráveis. É um privilégio que pode ser, e com freqüência é abusado. O divórcio não é um quadro bonito, na maioria dos casos. Solidão, rejeição, um profundo senso de ter falhado, perda de auto-estima, crítica dos familiares, problemas com a educação dos filhos e muitos outros problemas assaltam os divorciados. O divórcio pode ser mais traumático que a morte de um cônjuge. A morte do cônjuge é difícil de ser superada, mas um cônjuge falecido não retorna mais. O divorciado normalmente retorna, e assim prolonga a situação.

O divórcio é, porém, como no tempo de Jesus, uma solução parcial para uma situação séria e cruel, e pode ser a única solução razoável. Pode ser necessária, mas sempre é uma tragédia. É fácil pregar contra o divórcio, mas é difícil para a igreja ser construtiva, provendo preparo para o casamento. Temos de estar prontos para prevenir alguns divórcios, ajustando nossas leis de divórcio ou proibições religiosas contra o divórcio, mas essas ações não prevêem o rompimento de matrimônios. Quando os casais permanecem juntos somente por preocupação com a notoriedade requerida pelas leis de divórcio, ou pela “segurança dos filhos”, o resultado pode ser uma tragédia.

Desastrosos triângulos amorosos, crueldade doméstica, abuso de crianças, homicídio e suicídio são algumas das conseqüências documentadas de casamentos que falharam, mas não terminaram. Que opção mais terrível! Um lugar em ruínas é uma tragédia, mas nunca esquecerei de um jovem que pôs uma pistola na boca, acabando, assim, com seu casamento como alternativa ao divórcio. Sua igreja tinha proibido o divórcio. Nossa taxa elevada de divórcios não é um problema real. O fracasso nos casamentos vem primeiro, depois o divórcio.

A taxa de divórcios é indício da nossa alta taxa de casamentos ruins. Para corrigir isso temos de fazer mais do que pregar contra o divórcio: temos de revigorar os casamentos. Esse é o nosso desafio! Uma pessoa divorciada pode ser ordenada diácono ou pastor? O apóstolo Paulo, um homem instruído, conhecia a palavra grega para divórcio (apostasion) e conhecia sua cultura. Também sabia que Cristo aceita qualquer pessoa, até ele, o “maior dos pecadores” (1 Tm 1.15). É inquestionável que, naquela época os homens tinham muitas esposas, escravas e concubinas. Cada uma dessas relações, abarcadas pelo termo poligamia, constituía adultério. Paulo rejeitou a escolha de homens nessa condição como líderes da igreja. A instrução de dar carta de divórcio em Deuteronômio 24 limitou o homem a uma só mulher, e ainda proibiu a poligamia e o adultério inerente a ela. Parece que Paulo concordava plenamente com isso quando diz: “É necessário, portanto, que o Bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar…” (1 Tm 3.2). Ele rejeita a poligamia, não o divórcio. Apesar de sérios abusos, a lei do divórcio (Dt. 24) ainda tem validade.

O divórcio é uma solução radical para problemas maritais insuperáveis. Ele termina com toda a esperança de que o matrimônio deve ser conservado, e declara publicamente que ele falhou.

Ao contrário do repúdio, a carta de divórcio, exigida pela lei, provê um grau de dignidade humana para mulheres sujeitas ao abuso cruel da poligamia adúltera e aos caprichos de homens de coração endurecido. Não há nada tão atordoante como “quero divorciar-me de você”, não é verdade? O divórcio declara o término legal do matrimônio, portanto, se houver qualquer acusação de adultério ou bigamia, qualquer das partes pode voltar a casar-se novamente. O divórcio rompeu todos os laços maritais e todo controle da esposa anterior. O divórcio exigia monogamia estrita, prevenia o término unilateral e preservava o direito básico de casar-se. O mesmo ocorre hoje: Abandono, negligência, deserção, o que se queira dizer do coração duro que deixa a esposa por outra mulher sem divorciar-se foi e está proibido pelo mesmo Senhor Jesus Cristo (Mt 5.32; 19.9; Mc 10.11-12; Lc 16.18). (extraído)

Enfim, o divórcio não é o plano original do Senhor. É um desvio daquilo que Ele determinou para um casamento, que deve superar todos problemas e situações possíveis. Infelizmente, problemas e situações “impossíveis” podem acontecer. Nesses casos, o dolorido divórcio pode se tornar inevitável, porém permitido pelo Senhor.

Mas nunca faça o que é “melhor”, faça sempre o que é correto. Assim o Senhor se agradará de nossa obediência.

Deus abençoe.