O mais famoso grupo fundamentalista e conservador "cristão", a Ku Klux Klan
O mais famoso grupo fundamentalista e conservador “cristão”, a Ku Klux Klan

Só um esclarecimento. Não me refiro ao fundamentalismo bíblico, o conceito de se manter os fundamentos, as bases da fé cristã. Nesse conceito, todo cristão que leva Jesus a sério e crê na Palavra de Deus, a Bíblia, como autoridade de fé e prática, é em si um fundamentalista.

Aqui me refiro ao conceito popular de fundamentalismo, o conceito vigente na nossa sociedade devido ao mal exemplo dos fundamentalistas, que é de se transformar qualquer coisa em fundamento, pessoas querendo enfiar suas crenças religiosas goela abaixo dos outros, obrigar os outros a acreditarem no que eles acreditam, sob pena de serem mal tratados, rejeitados, odiados ou mesmo eliminados, por não aceitarem o que os fundamentalistas crêem.

Daí o problema do fundamentalismo, seja cristão, islâmico, ou o que for, nesse conceito popular, é pegar coisas secundárias, terciárias, quaternárias, enfim, qualquer coisa e dizer que isso é fundamental para a fé, para a vida, etc, e quem não aceitar essas fundamentalizações de coisas menores já está condenado. Isso é extremamente prejudicial, tanto à fé, como às relações humanas, cegando o adepto disso, cauterizando a mente, esfriando o amor e gerando uma vida deplorável.

Por que o fundamentalismo, então, atrai cristãos sinceros?

Bom, eu falo por mim. Também fui muito radical no que creio e também poderia ser considerado um “fundamentalista” até pouco tempo atrás. Estou ainda buscando mudar certas atitudes.

Eu queria ser especial, queria ser bíblico, seguir a verdade e bla bla bla.. Isso é, na verdade, um disfarce para o pecado que faz o homem cair desde sempre, querer ser superior aos outros, ou “semelhantes a Deus”. É a mesma serpente que enganou Eva nos enganando que podemos ser especiais, diferentes, ou “melhores” que os outros por “fazer a vontade de Deus”. Para fazer a “vontade de Deus”, cometemos os mesmos pecados que os fariseus, coamos o mosquito e engolimos o camelo, ou seja, colocamos como prioridade aquilo que não é prioridade e tratamos com pouca importância aquilo que tem importância crucial na nossa fé. Amor, Caridade, Fratenidade, Igualdade, essas coisas (fundamentais) são senso comum. Essas leis de Deus sobre o trato igualitário com o próximo (coisa fundamental para Deus, por isso Ele pôs essas leis, necessidades e consciência em todos os homens) estão no coração de todos os seres humanos, seguir o que é realmente fundamental não nos põe num “lugar elevado”, mas nos mantém na base que todos sabem que devem seguir, então não nos sentimos especiais, precisamos de mais, precisamos de coisas que nos diferenciem..

Daí o fundamentalismo é tão sedutor. Ele oferece “diferenças” que “agregam valor” ao nosso camarote no Reino (e no Reino de Deus não existe camarote), como “cumprir a Lei de Deus”, “possuir a Verdade”, “ser Bíblico” e etc. E o fundamentalismo não ensina o evangelismo bíblico, mas o proselitismo de idéias; não ensina o compartilhamento da Verdade e da fé, mas a imposição de valores; não ensina a igualdade e o trato igualitário, mas a formação de “castas” ou “elites” na fé de seus adeptos, que os faz querer alcançar essa elevação moral ou doutrinária para ser também diferente dos demais “ímpios” ou dos “ignorantes”. Daí podemos nos diferenciar mantendo uma distância imaginária dos incrédulos ou dos neófitos, ou dos teologicamente e espiritualmente “inferiores”, uma supremacia imaginária, afinal, achamos que temos um conhecimento especial das Escrituras, conhecemos verdades que o senso comum não sabe ou não aprecia e os outros são manipulados e enganados, diferente de nós, que somos “elevados” espiritualmente.

Enfim, o fundamentalismo mina o básico, o fundamental do cristianismo, a fé, o amor, a fraternidade, a caridade, a igualdade, a humildade, a mansidão e todos o fruto do Espírito, e coloca outros pontos como fundamentais, como base, não para evangelização dos incrédulos e edificação da Igreja, mas para diferenciação com as demais pessoais, uma auto-afirmação.

A necessidade por status e por auto-afirmação é uma constante nas nossas vidas e podemos usar isso para nos defender dos perigos de uma vida em sociedade, ou para atacar os outros, a escolha é nossa. Se defender nesta sociedade selvagem usando status e se auto-afirmando pode ser uma necessidade, querer ter status e se auto-afirmar para diminuir o próximo é sempre pecado e causa o fundamentalismo atual que distancia tantas pessoas de Cristo.

Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto está o Senhor.
Filipenses 4:5

Em virtude da graça que me foi dada, recomendo a todos e a cada um: não façam de si próprios uma opinião maior do que convém, mas um conceito razoavelmente modesto, de acordo com o grau de fé que Deus lhes distribuiu.
Romanos 12:3